Separados por 4 séculos Os Lusíadas e Mensagem
apresentam diferenças nítidas no que concerne à problemática da mitificação do
herói.
Na obra Os Lusíadas, o herói da epopeia
caracteriza-se pelos feitos grandiosos, nunca antes realizados por humanos,
pela ascensão dos homens à condição de Imortalidade. Na verdade, o herói da
epopeia vai-se progressivamente construindo à medida que a viagem avança porque
vai vencendo, graças à sua coragem e ousadia, todos os obstáculos e perigos.
É na Ilha dos Amores que se assiste à realização
daquilo que constituí a essência da epopeia: o poeta torna imortais os feitos
dos portugueses, elevando-os à categoria de deuses, para sempre eternos na
memória dos homens. Pode então dizer-se que Os Lusíadas apresentam um
homem que “é a medida de todas as coisas”, numa visão antropocentrista do mundo
em detrimento da visão Teocêntrica em que a razão se sobrepõe ao dogma. É a
apologia do saber, da experiência e da crença nas capacidades do Homem, em
perfeita consonância com o espírito renascentista, onde o herói se eleva à
medida do seu esforço.
Em Mensagem, as figuras históricas da epopeia
camoniana surgem como personagens míticas que funcionam como modelos. O herói
da Mensagem projeta-se para além do momento histórico em que a ação teve
lugar, sendo a sua dimensão simbólica e mítica que importa, enquanto marco na
história da Humanidade. Este herói é predestinado, escolhido, sacralizado e
situa-se no domínio do Sonho, procurando contudo a superação dos limites que
caracterizam a própria condição humana. (“Deus quer, o homem sonha, a obra
nasce”)
Em síntese, pode dizer-se que o herói de Mensagem
surge da necessidade de combater a estagnação que caracteriza o Portugal do
século XXI, um Portugal sem glória que tem de renascer e regenerar-se. Essa
constatação leva o poeta a fazer um apelo aos seus compatriotas, no sentido de
iniciarem a sua ação na construção de um novo tempo, a era do quinto Império
com o seu Messias Salvador.
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