Ricardo Reis nasceu a19 de setembro de 1887, tendo sido imaginado de relance pelo poeta em 1913 quando lhe veio à ideia escrever uns poemas de índole pagã. Nasceu no Porto, estudou num colégio de jesuítas, formou-se em medicina e, por ser monárquico, expatriou-se espontaneamente desde 1919, indo viver no Brasil. Era latinista por formação clássica e semi-helenista por autodidactismo. O Ano da Morte de Ricardo Reis, situando a morte de Reis em 1936.
Ricardo Reis, inspirado pela clareza, pelo equilíbrio e ordem do seu espírito clássico greco-latino, procura atingir a paz e o equilíbrio sem sofrer, através da autodisciplina e das seguintes doutrinas gregas:
Fundou assim as suas duas doutrinas o Epicurismo e o Estoicismo.
O Epicurismo é a doutrina baseada num ideal de sabedoria que busca a tranquilidade da alma através de seguintes regras.
o Estoicismo é a doutrina que tem como ideal ético a apatia que é a ausência de envolvimento emocional excessivo o que permite a liberdade.
Bem vindos caros vistantes! O meu nome é João Mamede tenho 17 anos e vivo em Beja, no baixo alentejo. Frequento a escola D.Manuel I, e criei este blog com o fim de ser o meu webfólio na disciplina de Português. Este webfólio servirá para eu expor o trabalho desenvolvido ao longo deste ano lectivo 2010/2011, que no final terá uma classificação. Espero que gostem.
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quarta-feira, 16 de novembro de 2011
Estoicismo
O principal fundador do estoicismo foi Zenão de Cício. Este sistema monístico tinha por base tratar o cosmos como uma entidade única. Por sua vez, o cosmos funcionava de uma forma cíclica, tanto no seu crescimento como na sua queda.
O estoicismo pregava a indiferença face aos bens materiais e o seguimento das virtudes, nomeadamente o discernimento (saber o que é bom e o que é mau), a coragem (saber aquilo que se deve ou não recear), a justiça (saber como dar aos outros aquilo que lhes pertence por direito) e o autodomínio (saber aceitar as acções dos cosmos).
O estoicismo pregava a indiferença face aos bens materiais e o seguimento das virtudes, nomeadamente o discernimento (saber o que é bom e o que é mau), a coragem (saber aquilo que se deve ou não recear), a justiça (saber como dar aos outros aquilo que lhes pertence por direito) e o autodomínio (saber aceitar as acções dos cosmos).
Epicurismo
Esta doutrina também cultivava a tranquilidade, mas partia de outro ponto de vista: a teoria atómica. Segundo Epicuro, por detrás dos sentidos-impressões estão os átomos, que formam todas as coisas, inclusive os deuses.
Para os epicuristas o ser humano deve procurar a ausência de dor e sofrimento e aceitar a morte sem receio.
Epicuro defendia que o tomar de responsabilidades públicas não era uma atitude sábia, antes acreditava que uma vida obscura seria mais feliz, pois poderia ser passada na companhia de amigos, evitando os prazeres excitantes e aproveitando os prazeres tranquilos.
Alberto Caeiro. O Mestre
“Alberto Caeiro nasceu em 1889 e morreu em 1915; nasceu em Lisboa mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão nem educação quase alguma. (…) Caeiro, como disse, não teve mais educação que quase nenhuma – só instrução primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e deixou-se ficar em casa, vivendo de uns pequenos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia-avó.”
Fernando Pessoa chamou a Caeiro o seu “Mestre”, pois ele era aquilo que Pessoa não conseguia ser: alguém que não procura qualquer sentido para a vida ou o universo, porque lhe basta aquilo que vê e sente em cada momento. Vive, assim, exclusivamente de sensações e sente sem pensar. É, pois, o criador do Sensacionismo, e também o Mestre dos outros heterónimos pessoanos. Enquanto Pessoa ortónimo procura incessantemente conhecer o que está para além daquilo que vê e sente, Caeiro não procura conhecer, não deseja adivinhar qualquer sentido oculto, uma vez que o “único sentido oculto das coisas / é elas não terem sentido oculto nenhum” e “as coisas não têm significado, têm existência”.
Nos seus poemas, está expresso um conceito de vida segundo o qual, partindo da aceitação serena do mundo e da realidade, saboreia tranquilamente cada impressão captada pelo seu olhar, ingénuo como o de criança. É, ao contrario de Pessoa, o poeta do real objectivo e nunca foge para o sonho, nem sequer para a recordação. Vive no presente, sem pensar no passado, e por isso não sofre de qualquer nostalgia, e sem pensar no futuro e, por isso, não tem medo da desilusão, nem mesmo da morte.
Optando pela vida no campo, acredita na Natureza, defendendo a necessidade de estar de acordo com ela, de fazer parte dela. Pela crença na Natureza, o Mestre revela-se um poeta pagão, que sabe ver o mundo dos sentidos, ou melhor, sabe ver o mundo onde se revela o divino, em que não precisa pensar.
Características temáticas
Objectivismo, sensacionismo,antimetafísico (recusa do conhecimento das coisas), panteísmo naturalista (adoração pela natureza)
Características estilísticas
Verso livre, métrica irregular, despreocupação a nível fónico, pobreza lexical ( linguagem simples, familiar), adjectivação objectiva, pontuação lógica, predomínio do presente do indicativo, frases simples, predomínio da coordenação, comparações simples e raras metáforas.
O guardador de rebanhos
Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.
Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.
Com um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes,
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.
Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos.
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.
E se desejo às vezes
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita coisa feliz ao mesmo tempo),
É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva toda.
Quando me sento a escrever versos
Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
Sinto um cajado nas mãos
E vejo um recorte de mim
No cimo dum outeiro
Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas ideias,
Eu olhando para as minhas ideias e vendo o meu rebanho,
E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz
E quer fingir que compreende.
Saúdo todos os que me lerem,
Tirando-lhes o chapéu largo
Quando me vêem à minha porta
Mal a diligência levanta no cimo do outeiro.
Saúdo-os e desejo-lhes sol,
E chuva, quando a chuva é precisa,
E que as suas casas tenham
Ao pé duma janela aberta
Uma cadeira predilecta
Onde se sentem, lendo os meus versos.
E ao lerem os meus versos pensem
Que sou qualquer coisa natural
Por exemplo, a árvore antiga
À sombra da qual quando crianças
Se sentavam com um baque, cansados de brincar,
E limpavam o suor da testa quente
Com a manga do bibe riscado.
Alberto Caeiro
A Heteronímia
“Começo pela parte psiquiátrica. A origem dos meus heterónimos é o fundo traço de histeria que existe em mim. Não sei se sou simplesmente histérico, se sou, mais propriamente, um histero-neurasténico. Tendo para esta segunda hipótese, porque há em mim fenómenos de abulia que a histeria, propriamente dita, não enquadra no registo dos seus sintomas. Seja como for, a origem mental dos meus heterónimos está na minha tendência orgânica e constante para a despersonalização e para a simulação. Estes fenómenos — felizmente para mim e para os outros — mentalizaram-se em mim; quero dizer, não se manifestam na minha vida prática, exterior e de contacto com os outros; fazem explosão para dentro e vivo-os eu a sós comigo. Se eu fosse mulher — na mulher os fenómenos histéricos rompem em ataques e coisas parecidas — cada poema de Álvaro de Campos (o mais histericamente histérico de mim) seria um alarme para a vizinhança. Mas sou homem — e nos homens a histeria assume principalmente aspectos mentais; assim tudo acaba em silêncio e poesia…”
In Carta a Adolfo Casais Monteiro sobre a génese dos heterónimos, de 13 de Janeiro de 1935
Os heterónimos são concebidos como individualidades distintas da do autor, este criou-lhes uma biografia e até um horóscopo próprios. Encontram-se ligados a alguns dos problemas centrais da sua obra: a unidade ou a pluralidade do eu, a sinceridade, a noção de realidade e a estranheza da existência. São a mentalização de certas emoções e perspectivas, a sua representação irónica. De entre os vários heterónimos de Pessoa destacam-se: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos.
In Carta a Adolfo Casais Monteiro sobre a génese dos heterónimos, de 13 de Janeiro de 1935
Os heterónimos são concebidos como individualidades distintas da do autor, este criou-lhes uma biografia e até um horóscopo próprios. Encontram-se ligados a alguns dos problemas centrais da sua obra: a unidade ou a pluralidade do eu, a sinceridade, a noção de realidade e a estranheza da existência. São a mentalização de certas emoções e perspectivas, a sua representação irónica. De entre os vários heterónimos de Pessoa destacam-se: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos.
terça-feira, 15 de novembro de 2011
O Modernismo
Modernismo – movimento estilístico em que a literatura surge associada às artes plásticas e por elas influenciada, desencadeado pela geração de Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro e Almada Negreiros (Orpheu). Caracteriza-se por uma nova visão da vida, que se traduz, na literatura, por uma diferente concepção da linguagem e por uma diferente abordagem dos problemas que a humanidade se vê obrigada a enfrentar, num mundo em crise. Associado ao modernismo existem ainda outros movimentos: Decadentismo, Interseccionismo, Futurismo, Sensacionismo e o Paulismo.
"Pintura" de Amadeo Souza Cardoso 1917
"Pintura" de Amadeo Souza Cardoso 1917
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
Fernando Pessoa Ortónimo
O fingimento artístico
Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Analisando…
A dor de pensar
"Gato que brincas na rua"
Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.
Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.
És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.
Analisando...
Sonho/Realidade
“Tudo o que faço ou medito”
Tudo que faço ou medito
Fica sempre na metade.
Querendo, quero o infinito.
Fazendo, nada é verdade.
Que nojo de mim me fica
Ao olhar para o que faço!
Minha alma é lúcida e rica,
E eu sou um mar de sargaço –
Um mar onde bóiam lentos
Fragmentos de um mar de além…
Vontades ou pensamentos?
Não o sei e sei-o bem.
Analisando …
A nostalgia de um bem perdido
“O menino de sua mãe”
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
– Duas, de lado a lado –,
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! Que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe».
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
É boa a cigarreira,
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo, e bem!"
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.
Analisando...
Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Analisando…
O poeta é um fingidor (metáfora) - ocupa lugar de destaque no poema. Caracteriza-se pelo fingimento e finge tão bem que consegue fingir a dor que sente na realidade.
Coloca-nos assim perante dois tipos distintos de dor: a dor real, sentida e a dor fingida, imaginária. A dor fingida é comunicada através da linguagem verbal.
Uma perífrase inicia a segunda estrofe: "os que o lêem" - leitores.
A poesia é apresentada como expressão da profundidade negativa da alma do poeta: a dor. A dor sentida pelo poeta (real) serve de motivo à dor fingida e é expressa pela escrita pelo poeta que serve de motivo à dor sentida pelos leitores que serve de referência à dor fingida pelos leitores.
A terceira parte do poema, como a própria expressão "E assim" constitui uma espécie de conclusão: o coração (símbolo da sensibilidade) é um "comboio de corda" sempre a girar nas "calhas de roda" (que o destino fatalmente traçou) para "entreter a razão".
São também aqui marcados os dois pólos em que se processa a criação do poema: o "coração" (as sensações donde o poema nasce) e a "razão" (a imaginação, onde o poema é inventado).
Fecha-se neste fim do poema como que um círculo cuja linha limite marca uma pista sem fim em que nunca se esgota a dinâmica do jogo sensação-imaginação.
A dor de pensar
"Gato que brincas na rua"
Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.
Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.
És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.
Analisando...
A tendência excessiva para a intelectualidade e consequentemente para a abstracção leva Fernando Pessoa ortónimo a ser incapaz de sentir e, por isso mesmo, a desejar ser inconsciente para poder atingir uma felicidade cada vez mais inatingível. A “inveja” que o poeta sente dos seres felizes assume o auge no poema “ Gato que brincas na rua”, onde é o próprio animal, não pensa, porque não se conhece, porque que aparece como uma espécie de “modelo” para se atingir a felicidade (“Invejo a sorte que é tua/ Porque nem sorte se chama/ (...)És feliz porque és assim/ (...) eu vejo-me e estou sem mim, / conheço-me e não sou eu”).
Sonho/Realidade
“Tudo o que faço ou medito”
Tudo que faço ou medito
Fica sempre na metade.
Querendo, quero o infinito.
Fazendo, nada é verdade.
Que nojo de mim me fica
Ao olhar para o que faço!
Minha alma é lúcida e rica,
E eu sou um mar de sargaço –
Um mar onde bóiam lentos
Fragmentos de um mar de além…
Vontades ou pensamentos?
Não o sei e sei-o bem.
Analisando …
O tema é a dor que resulta da distância imensa entre o que se quer – o Tudo, o Infinito – e o que se realiza – o Nada, o aquém do sonho. Em Pessoa, e neste poema em três quadras de versificação regular (versos de seis sílabas), essa dor vai originar nojo de si mesmo e consciência aguda de, tendo uma alma lúcida e rica (e lúcida tem aqui o sentido primitivo de “cheia de luz”, luminosa) ser um mar de sargaço, mais parecido com algo de pantanoso, de charco – mar, segundo Pessoa, em que “bóiam lentos/ fragmentos de um mar de além”. Ou seja, em que se reflectem ainda vestígios, fragmentos de algo maior e distante. Fragmentos de quê? O sujeito afirma não o saber e ao mesmo tempo sabe-lo bem. E mais não diz. É que ele não tem que dizer, tem, quando muito, de sugerir. Porque, não o esqueçamos, “Sentir? Sinta quem lê!”.
A nostalgia de um bem perdido
“O menino de sua mãe”
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
– Duas, de lado a lado –,
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! Que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe».
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
É boa a cigarreira,
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo, e bem!"
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.
Analisando...
No poema menino de sua mãe de Fernando Pessoa, vai sendo descrita progressivamente a figura de um jovem soldado morto. De facto, um conjunto de traços e situações caracterizadoras da figura surgem antepostas à sua identificação. “De balas trespassado”, “Jaz morto, e arrefece.”
Identificar aquele que “jaz morto e arrefece” como “o menino de sua mãe” dá-nos a imagem de um dramatismo extremo. Não há nada mais terrível do que a ideia de um filho morto, e ainda por cima longe de sua mãe. Este filho não tem nome, nem precisa, porque o anónimo soldado morto e abandonado é ainda e sempre o “menino” para a sua mãe.
A cigarreira dada pela mãe e o lenço dado pela ama que o ajudou a criar, são a imagem do seu passado de menino vivo junto de quem o ama. A presença de objectos preservados contrasta com o corpo morto e frio do soldado (“Está inteira/E boa a cigarreira./Ele é que já não serve”). A presença destes elementos é tão importante que o poeta reservou uma estrofe para cada um deles. Relativamente ao lenço, há uma sugestão de cor sobretudo na expressão “brancura alada” que inevitavelmente conduz à sugestão da imagem da pomba da paz.
O “menino de sua mãe” é a descrição dramática de um jovem soldado morto quando combatia, longe de casa, para defender o Império. No entanto, pode ver-se nele a representação do poeta que sabe ser impossível o regresso ao colo da sua mãe.
A infância ficou para trás, irremediavelmente perdida, morta. Relacionando este poema com a temática da nostalgia da infância, compreende-se o sentido desta representação.
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